Sexo sem prazer: Por que sentimos tudo de forma diferente
Há um tema que não se fala em voz alta, nem mesmo entre as mais próximas. Especialmente em uma indústria onde a sexualidade é uma ferramenta de trabalho, o corpo é uma moeda, e o prazer... bem, não é a prioridade.
O tema é simples e ardente:
Por que o sexo, que para outros é paixão e faísca, para nós é muitas vezes apenas física, sem centelha, sem prazer, sem nós mesmas?
Não, não é sobre frigidez. Não é sobre “problemas com a feminilidade”. E não é sobre “não gostar de homens”.
É sobre como a percepção muda quando o sexo faz parte da profissão. Sobre como temos uma sensibilidade diferente, um limite diferente e uma maneira completamente diferente de vivenciar a intimidade.
Se você já se perguntou “por que não quero nada, embora tudo devesse ser prazeroso” — continue lendo. Você não está sozinha. E está tudo bem com você.
Você não sente — porque aprendeu a não sentir
A primeira e mais amarga verdade: muitas de nós simplesmente aprenderam a se desligar. Não de propósito, não dramaticamente, não com tragédia — mas aos poucos. Passo a passo, quando você percebeu que sentir significa ser vulnerável. Que se você reage a cada olhar, cada toque, cada palavra — você se esgota rapidamente.
Você começou a filtrar. Parou de estar “no corpo”. Foi para a cabeça. Deixou o sentir do lado de fora da porta, porque lá era insuportável e aqui atrapalhava.
E agora você está deitada: linda, confiante, se movendo perfeitamente, mas por dentro — como se alguém tivesse apagado a luz.
O sexo deixou de ser pessoal — tornou-se profissional
O problema não está em você, mas no formato.
Quando você faz sexo sob demanda, é como ser uma cozinheira que não come sua própria comida. Você faz tudo certo: os movimentos certos, os sons certos, a dinâmica certa. Mas não para si mesma, porque é preciso, por causa do cliente, do cronograma, das expectativas.
Não é sobre simpatia, não é sobre excitação, não é sobre desejo. É sobre entrar em um papel e ser boa nele.
E o prazer — ele não está no papel, está na espontaneidade, no vivo, no real. Mas você não é mais “real” nesse processo há muito tempo. Você é uma profissional, uma atriz, um roteiro.
O prazer exige confiança. E você não tem tempo para isso
Outra coisa que ninguém menciona. Para sentir verdadeira excitação, prazer, orgasmo, você precisa relaxar. E para relaxar, precisa de confiança. Para confiar, precisa se sentir segura.
E, honestamente: quando foi a última vez que você se sentiu realmente segura na cama? Não no controle, não no poder, mas segura?
Se você está sempre em alerta, não haverá prazer. O corpo sabe: se há uma ameaça por perto, o prazer é impossível. Mesmo que o homem não seja perigoso, mesmo que pague e seja educado. Seu sistema nervoso ainda está no modo “alerta”, porque você está no trabalho.
Você desaprendeu a estar no corpo
O sexo sem prazer acontece muitas vezes porque... você não está presente nele. Mais precisamente, o corpo está participando, mas você não.
Você se observa por dentro, como se estivesse em uma cabine de direção: Estou bem? Estou respirando direito? Estou sendo fria demais, apaixonada demais ou passiva demais? Está tudo bem com o tempo?
Você não está no momento, mas na cabeça. Não nas sensações, mas no controle. Não no “sinto”, mas no “como pareço, como ele me percebe”.
Você aprendeu a ser perfeita por fora e perdeu o contato consigo mesma por dentro.
Paradoxo: Quanto mais sexo, menos desejo
Você acha que a intimidade frequente deveria aumentar a libido? Na verdade: quanto mais você tem sexo sem desejo, mais seu próprio desejo morre.
O corpo lembra: sexo é obrigação, trabalho, cliente. E começa a bloquear a excitação para te proteger. Você ainda é jovem, linda, tudo está em ordem, mas o desejo não vem. Mesmo que o cara seja bom e tudo seja “de repente por amor”.
O corpo lembra: sexo não é para mim, é para outra pessoa.
É possível recuperar o prazer? Ou é deformação profissional?
É possível. Mas é um trabalho. Não com cenas, não com homens, mas consigo mesma. Nem todas se atreverão, nem todas vão querer, mas se você se pegou pensando “não me lembro mais como é querer”, talvez seja hora de parar.
Alguns pontos para começar:
1. Tire o sexo da agenda
Se puder, dê a si mesma pelo menos uma semana sem contato físico. Sem simulações, sem encontros obrigatórios. Um detox digital e corporal completo. Deixe o sistema descansar, para que o corpo volte a ser seu, não de outros.
2. Comece a sentir fora da cama
A sensibilidade atrofiou não apenas no sexo, mas também no cotidiano. Tente sentir novamente as pequenas coisas — cheiros, toques na pele, o sabor da comida, o calor da água, a suavidade do tecido.
Cada vez que você se permite um micro prazer, você aprende a viver no corpo. E isso significa trazer de volta a capacidade de sentir também na intimidade.
3. Estabeleça a regra: se não quer, não faz
Parece simples, mas é radical. Você está acostumada com o “tem que ser”, com o “tudo conforme o plano”, esqueceu de dizer não até para si mesma. Tente, na vida pessoal, parar de concordar por cortesia, medo ou conveniência. Só porque quer.
Nada de “tá, vamos rápido”, nada de “ele se esforçou”. Se não há desejo interno — nada de sexo. Isso devolve a você o direito sobre si mesma, e com ele o prazer.
4. Se tiver um parceiro — diga a verdade
Se você tem um homem fora do trabalho, não minta para ele. Ele não é idiota, ele sente que você está desconectada. É melhor ser honesta e gentil do que fingir que está tudo bem.
Você pode dizer: “Estou um pouco perdida agora. Estou no corpo, mas não nas sensações. Quero aprender a estar viva nisso novamente. Sem pressão, sem expectativas.”
Se ele for maduro — ele vai entender. Se não — é outra história.
Você não está quebrada. Você está apenas sobrecarregada.
Lembre-se: você não é “aquela que não pode se excitar”, não é “não feminina” nem “sem alma”. Você é uma garota que aprendeu a se proteger, a fazer sexo sem si mesma, a ser uma casca bonita sem núcleo, porque era necessário.
Se um dia você quiser sentir prazer novamente — não apenas dá-lo, mas vivê-lo — isso é possível. Lentamente, sem coerção, sem “tenho que”. Apenas com o primeiro pequeno passo — em direção a si mesma, ao corpo, ao vivo.
Você merece prazer. Mesmo que o trabalho tenha te ensinado a pensar que ele não é para você.











